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A clínica com crianças talvez exija ser considerada assim, além do consultório, porque se trata de sujeitos em constituição. Ainda que consideremos a singularidade da criança, ela depende de outros discursos e de outros campos sociais de circulação para se desenvolver (atualmente, práticas de acompanhamento terapêutico tem demonstrado isso). Com este tratamento, corrobora-se a ideia de que muitas vezes não é possível desenvolver um tratamento restrito só a consultórios.
A clínica com crianças pequenas pode se aproximar ao de um agenciamento da função materna, quando: opera supondo um sujeito pelo caminho de acolher a criança no discurso e no desejo, fazendo traduções simbólicas que antecipe a configuração de um "eu sou" na criança, engajando-a num saber a fim de permitir o desenvolvimento do seu funcionamento subjetivo, e por isso também, cognitivo, enlaçando-a no social. Entretanto, sua posição jamais se engana em substituir o par parental.
Então, há que se pensar que na clínica com crianças pequenas, faz-se preciso a presença de uma intervenção Outra, tratada, que suporte que o pequeno paciente seja situado em algum lugar da economia psíquica e do desejo do analista. Desta feita, haverá o empréstimo de linguagem, de traços e cifras à criança, o que não significa fazer da clínica um lugar em que a presença da fantasia do sujeito do psicanalista se sobreponha à construção da fantasia da criança. Reconduzir a criança a uma herança simbólica para que depois, enquanto sujeito constituído possa fazer algo próprio com isto, é o grande feito. Isto é o que achamos ter constatado com Rosine Lefort, em sua grande caminhada.
Assim, como diz Miriam Szejer (2016), a missão do psicanalista junto ao recém-nascido é o de ventilar os dizeres dos pais para a criança, interpretando-os eventualmente, mas também, traduzindo a linguagem do bebê, quer sendo somática ou motora. O bebê está à espera de palavras que deem sentido a sua vida e nesse momento inicial, quase sempre, fica rodeado de palavras soltas, sem intenção consciente. Necessitamos intervir nessa cena e mais ainda quando ocorrem separações forçadas precoces entre mãe e bebê. Alguém precisará enunciar ao bebê essa condição, prevenindo perturbações no seu desenvolvimento. A descontinuidade do que era conhecido sensorialmente precisa ser atendida, amenizando o evitando o que pode ocasionar rupturas que venham a dificultar ou impossibilitar o ingresso num mundo representacional simbólico.
FONTE: DA COSTA NEVES, Brenda Rodrigues; VORCARO, Ângela Maria Resende. A intervenção do psicanalista na clínica com bebês: Rosine Lefort e o caso Nádia. Estilos da Clinica, v. 15, n. 2, p. 380-399, 2010.
O método Bick foi criado em 1948, em Londres, por Esther Bick, visando prover experiência prática com bebês, e, desde então, tem sido incluído no currículo do curso de formação de psicoterapeutas da Clínica Tavistock, em Londres. Esther Bick foi pioneira ao criar um método que permite uma vivência prática nos primeiros anos de formação de psicoterapeutas infantis, servindo de auxílio para que os estudantes em formação possam compreender mais claramente a experiência infantil de seus pequenos pacientes.
A experiência de observação é também útil para entender melhor a conduta não-verbal da criança e seus jogos, assim como a conduta da criança que não fala nem joga. Além disso, o método pode auxiliar o profissional que entrevista a mãe, para que compreenda as informações que esta lhe dá sobre a história da criança. O método Bick de observação oferece uma excelente oportunidade de observar o desenvolvimento de um bebê desde o nascimento, no ambiente da família e em sua relação com a família, acompanhando como se originam e desenvolvem tais relações.
FONTE: OLIVEIRA-MENEGOTTO, Lisiane Machado de et al. O método Bick de observação de bebês como método de pesquisa. Psicologia clínica, v. 18, n. 2, p. 77-96, 2006.
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